Amazon | Skoob

_________________________________________________________________________________

Na teoria, ler é um hábito fácil. Geralmente não é necessário muita coisa além de atenção, posto que palavras difíceis podem ser entendidas em um breve contato com o dicionário e a compreensão de seus significados veem junto à um olhar mais atento sobre o que está sendo dito. Contudo, o ato de absorver o que foi encontrado e conseguir tirar proveito já é completamente diferente e mais complexo, aí sim ler se torna difícil. Cada história que nos deparamos nos marcam de uma maneira única e constroem memórias próprias, às vezes, é extremamente custoso compreender o que realmente sentimos, ainda mais quando é uma daquelas clássicas “leituras complicas”.

“Valeu, Universo!” é uma das obras que se encaixam na categoria: difíceis de resenhar. Sei o que achei, porém ainda não sei a maneira ideal de me expressar fazendo jus a trama e a minha opinião de maneira ponderada, peço desculpas antecipadamente por isso. A ideia em si do livro é muito interessante, em forma de trechos de diário dos dois protagonistas, conta a história de amor de Lia e Théo, dois jovens que se conheceram por acaso e logo se apaixonaram. Ao mesmo tempo em que o Universo parece sempre estar conspirando a favor para que eles fiquem juntos, parece também conspirar para que algo dê errado e os separe. A narrativa é fluída e dinâmica, fazendo com que várias páginas se passem em um piscar de olhos.

Em contraponto, acredito que se a autora tivesse dado mais atenção a descrições e diálogos – a obra carece deles, a trama conseguiria ficar ainda melhor e mais densa, visto que ambos os recursos promovem a identificação do leitor com os personagens, e um maior sentimento de inclusão na história. Embora a alternativa escolhida para construir o livro tenha sido original e criativa, a ausência de tais elementos cria em certas ocasiões a impressão de que estamos em frente a uma história rasa com um amor superficial – tudo acontece rápido demais - e personagens superficiais, que ainda precisam amadurecer e crescer, algo que não condiz com a prévia em si da trama.

Com relação a escrita em si, a autora escreve de uma maneira simples e cativante, capaz de conquistar o coração de qualquer leitor. Parece que estamos ao seu lado, tendo uma conversa pessoal e íntima em que ela nos conta a bela história de amor do casal. Para os próximos livros, recomendaria apenas mais cuidado com a edição e a escolha de palavras. Erros ortográficos – alguns de digitação, outros nem tanto – são encontrados ao longo das páginas; algumas palavras são usadas em demasiado, como a palavra gostoso, conferindo em certas ocasiões um tom vulgar a trama. Creio que se tivessem sido utilizados outros sinônimos, isso não ocorreria, fora que criaria um ar de domínio gramatical; Em dados momentos, determinadas escolhas de termos e expressões conferiram um tom de preconceito a narrativa, como se os personagens fossem machista e acreditassem que existe um tipo ideal de “namorada perfeita” ou “mulher perfeita”, qualificando todas as outras como loucas “mal comidas” ou erradas. E como vivemos em uma nova era de igualdade entre gêneros e valorização da mulher, escolhas assim podem ser interpretadas erroneamente, transmitindo uma visão que nem sempre corresponde a verdadeira opinião da escritora sobre a causa.

Por mais que eu esteja sendo a chata que aponta vários dedos, a história de “Valeu, Universo!” é encantadora e sutil, sendo o típico romance que os fãs do gênero iriam adorar. Leve, divertida e com uma bela moral, a obra nos conquista nas primeiras páginas e nos mostra que o amor verdadeiro é capaz de superar qualquer barreira e qualquer obstáculo. Fora a noção de que quando se ama de verdade, a pessoa amada continua sim tendo defeitos, mas eles são parte dela, e como amamos o todo, amamos os defeitos também. A todo momento, fica claro que Theo e Lia são gente como a gente, que erram e acertam, e claro, possuem defeitos e qualidades, como dito anteriormente.

Em suma, “Valeu, Universo!” é um bom livro. Acredito que ainda faltam algumas lapidações para que se torne o diamante resplandecente que é, aproveitando ao máximo todo o seu potencial. Parabéns Luísa, você fez um ótimo trabalho! Garanto que se continuar assim, ainda vai longe.

E como sempre dizemos, cada leitor ao se deparar com uma nova história a interpreta de uma maneira e cria suas próprias opiniões, o que nem sempre quer dizer que serão iguais as nossas. Em outras palavras, por mais que algumas vezes se sintam desmotivados em ler determinado livro em virtude dos comentários que já viu, nunca desistam, Letterianos. O que gosto pode ser que você não goste, e vice-versa. Dê uma chance a novas leituras e novo gêneros, garanto que não irão se arrepender.