Conto do dia | O primeiro amor sempre marca

14:59Cecília Rodrigues



"Ninguém acredita em amor á primeira vista até aquela pessoa especial chegar e roubar seu coração"
Dia 5 de janeiro- 9 anos
—Amanda!- minha mãe gritava do outro lado do parque- Venha logo! Nós temos que ir!
—Já estou indo, mãe!- eu gritei de novo, antes de dar um pulo do balanço, saindo correndo na mesma hora.
Minha mãe costumava dizer que eu era uma ‘’peste’’ na vida dela, sempre animada, pronta pra brincar, dançar e fazer qualquer coisa que envolvesse movimento. Ao mesmo tempo que ela dizia isso, dizia que eu era a criança mais bonita do bairro. Por mais que eu achasse que era exagero, afinal, todas as mães dizem isso pra seus filhos ou filhas, ela amava dizer que meu cabelo castanho curto, meus olhos castanhos escuros, meus óculos e meus dentes de cima levemente tortos eram ‘’o meu charme’’
Obviamente, eu não acreditava nas palavras dela. Alias, quem diabos que tem 9 anos tem ‘’charme’’?
Fui dispersa dos meus pensamentos quando  eu ouvi um barulho. Eu havia pisado em algo.
Me abaixei e peguei o que havia embaixo dos meus pés, era uma foto. Não parecia ser muito antiga, porém com certeza havia sido perdida por alguém. A foto era de um garoto, os cabelos eram castanhos curtos e eu não sabia qual era a cor exata dos olhos, porém ele parecia ter a minha idade. Ele estava  de costas com o belo cenário de um pôr-do-sol atrás dele.
Virei a foto,estava escrito atrás dela: ‘’Eu no pôr-do-sol’’
—Amanda!- minha mãe me chamou a atenção de novo- Eu tenho médico ás três horas! Já são duas e meia!
Eu corri até minha mãe novamente. Dessa vez, com o pensamento mais persistente possível de que eu iria encontrar o dono daquela foto. Iria encontrar aquele menino, de qualquer maneira que fosse possível.
Dia 9 de abril- 11 anos
Eu bufei enquanto minha amiga falava algo sobre o novo colírio da Capricho, sinceramente, eu amo Marlene, mas os assuntos dela são tão.... Fúteis.
Peguei a foto do garoto de minha bolsa. Ele sim era quem eu procurava. Havia achado a foto aos meus 9 anos, e ainda não havia achado o  dono dela, ou seja, o garoto que estava na foto.
Eu realmente o achava muito bonito, e eu estava curiosa por ele e sentia alguma coisa diferente....
Isso era o chamado amor, não?
Dia 9 de setembro- 15 anos
—Você sabe que não vai achar ele...- Marlene me repreendia, olhando para a foto.- Então porque tenta tanto encontra-lo?
—Eu realmente não sei....- eu me joguei na minha cama, não deixando de observar a loira de olhos verdes.- Talvez exista mesmo aquela coisa de destino, akai ite, fio vermelho, tanto faz?!
—Você acredita que vai conhecê-lo?- Marlene se sentou ao meu lado - Você deixou de ficar com todos os garotos que gostavam de você por causa de um menino que: Você não conhece pessoalmente, não sabe o nome e nem sequer sabe se vai conhecê-lo!
Ela tinha razão. Marlene sempre tinha razão.
Mexi nos meus dentes, havia tirado o aparelho fixo no dia anterior e estava achando estranho tudo isso.
Mas eu admito, nunca desistiria. Aquele garoto fora meu primeiro amor, e eu sou muito persistente com as coisas.
Nunca desisto delas, não vai ser diferente nesse caso
19 de dezembro- 19 anos
—Ok, agora eu estou surpresa.- Alice comentou, eu, ela e Marlene estávamos sentadas na lanchonete na frente da faculdade - Você já teve 3 namorados, está no primeiro ano da faculdade, mas ainda não desistiu de encontrar a paixonite dos 9 anos?
—Sem contar o fato de que você está namorando agora, e por sinal, o Matheus é ciumento - Marlene acrescentou.
—Hey, eu não estou apaixonada mais pelo ‘’menino da foto’’, eu só não quero parar de procura-lo.- Fiz a conta de cabeça, já faziam dez anos que eu estava procurando ele.
—Dez anos, Amanda!- Alice deu um tapa de leve na minha cabeça - Ninguém procura outra pessoa por 10 anos!
—Com licença- fomos interrompidas por uma voz masculina- Vocês são estudantes da faculdade? - ele apontou pra nossa faculdade.
—Somos sim- Marlene.
—Alguma de vocês pode me mostrar onde fica a sala de Cinema? - ele coçou a cabeça, envergonhado.
—Eu mostro, siga-me - eu me levantei e entrei na faculdade, sendo seguida pelo de cabelos e olhos castanhos.
5 de março- 20 anos
—Não, Victor - eu bufei, dando um peteleco nele - Eu não vou te contar de quem é a foto de quem eu encontrei quando eu tinha 9 anos, até porque eu não sei. E ainda mais, eu deixei a foto na república, por isso não posso te mostrar.
—É muita coincidência!- ele olhou para o céu - Você encontrou uma foto quando tinha 9 anos, e eu perdi uma foto quando tinha 9 anos.
—Coincidências acontecem todos os dias!- eu dei risada.
Muita coisa havia mudado um ano depois que eu conhecera Victor. Quem diria que ‘’o garoto tímido da lanchonete’’ iria se tornar um dos meus amigos.
Amigos.... Amigos que eu queria sinceramente que fossem outra coisa..
E também havia sido  o motivo de eu ter terminado com Matheus... Mas isso realmente não importa, passado é passado, são águas passadas. Além disso, eu gosto realmente de Victor, mais que como somente amigos
Tanto faz, de qualquer maneira.
— E você ainda procura esse garoto?- Ele perguntou.
—Um pouco...- eu suspirei-  Eu procurar por onze anos um único rapaz é sério exagero, por isso eu parei um pouco, cansei de correr atrás, sabe?
Ele segurou na minha mão. Um gesto que me fez corar de leve
—Se eu fosse você - ele começou- Não parava de correr atrás. Eu tenho o pressentimento de que você vai encontrá-lo. E obviamente, se encontra-lo e ele for solteiro, vocês vão ficar juntos. Com certeza o cara que ficar com você vai ser muito feliz.
—Você é um idiota - eu bati de leve na cabeça dele
Dia 7 de julho- 29-30 anos.
Eu coloquei a aliança no meu dedo.
—Amor? - Victor me chamou - Você sabe onde ficou a minha carteira depois da nossa viagem?
—Deve estar na minha bolsa, Victor - eu respondi, enquanto colocava meus brincos.
Sim, eu estava casada a um exato ano com Victor, ele foi um dos meus amigos durante a faculdade. Um bom amigo, por sinal. Apesar de eu não lembrar nem um pouco sobre o que conversávamos na mesma. Eu tinha uma péssima memória.
Ouvi uns barulhos de zíper, porém depois um silêncio.
—Amanda - ele me chamou e eu me virei pra ele - De quem é essa foto?
Ele me mostrou.Era a foto do ‘’menino do parque’’.
Disso eu não esquecia.
—Meu primeiro amor. - sorri pra Victor.
Ele deu uma risada e olhou pra foto de novo.
—Que ironia - ele sorriu de  novo - Eu  perdi essa foto quando tinha 9 anos.
Eu fiquei um tempo parada, em estado de choque.
Victor era... o menino da foto?
Eu simplesmente esqueci do mundo a minha volta e o abracei com muita, muita força.
—Talvez realmente exista essa coisa de destino... - eu falei, o abraçando com ainda mais força, se é que era possível.

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