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A Bomba Relógio Chamada Ansiedade

18:32Henrique Machado




Entro para o banheiro aos prantos. Encosto todo meu corpo na parede do box, enquanto a água gelada cai parcialmente sobre meu corpo. Choro como nunca chorei, meus olhos ardem. Com o tempo sinto meu corpo perder suas forças, e aos poucos vou me colocando em posição fetal no chão do banheiro. A água ainda cai sobre meu corpo, e meu chorar fica ainda mais alto. Minha mãe e minha irmã entram no local, me encontram nu, enquanto seguro meu pescoço indicando falta de ar. Eu não consigo respirar. Eu tento me levantar mas a parede é lisa. Ouço a voz de minha mãe desesperada com o estado do filho. De relance vejo a sombra da minha irmã encostada na porta do banheiro, sem saber o que fazer.

Eu poderia narrar tudo o que acontece depois desse fato, porém não é esse meu foco. Todo esse desespero, esse sufoco, essa agonia, são elementos comuns na vida de alguém que tem ansiedade, ou pânico. No meu caso, os dois.

Ser um garoto que enfrenta esse tipo de luta diária não é fácil. Convivo com os pensamentos de que a qualquer momento, em qualquer lugar, sozinho ou não, eu poderei surtar desse jeito novamente. Poderei sentir o ar sendo tirado a força do meu peito, enquanto em minha cabeça pensamentos horríveis se formam. Crescer dessa maneira pode não ter sido impossível, mas com certeza teve suas consequências.

Tenho medo de tudo. Tenho medo daquilo que pode lotar minha mente e me provocar uma sobrecarga, e enfim a crise. Tenho medo de tudo aquilo que possa me tirar o ar, inclusive o amor. Vivo sob a mercê das possibilidades. A possibilidade de uma crise acontecer, ou de não acontecer. A possibilidade de ser letal, ou de não ser letal. Vivo um medo constante, que em muitos casos não me permite de fato viver.

Nesse exato momento eu sei que alguém está sentindo isso. Sei que alguém está em algum lugar do planeta, perdendo seu ar e sentindo seu corpo perder a força. Sei que nesse momento alguém chora como nunca havia chorado antes. Nesse momento alguém se sente uma causa perdida, um problema sem solução. Agora, neste instante, alguém luta para se levantar enquanto tenta sobreviver a um estado ofegante de alta velocidade. O ar entra e sai pela sua boca tão rápido que parece cortar sua garganta ressecada. Seus olhos ardem tanto que mal consegue mantê-los aberto.

Vivemos com um tic-tac em nossa cabeça. Um relógio incerto, mas que nunca perde a hora. O tic-tac retumba, e sabemos que uma hora irá acontecer. Temos dentro de nós uma bomba relógio, o que consequentemente nos torna o que tem dentro de nós. O que nos resta é ter esperança de não estarmos sozinhos quando acontecer.

Ps: O texto acima retrata as experiências do autor. Tudo aqui dito tem o intuito de ilustrar superficialmente a presença da ansiedade e do pânico na vida de um indivíduo. É importante que se tenha em mente que existe tratamento efetivo tanto para a ansiedade, quanto para a síndrome do pânico. Portanto, se você em algum momento se identificou com o descrito, procure o mais rápido possível por um profissional. E se você conhece alguém que suspeita, a oriente para isso. Lembrando-se sempre de não forçar a barra. Não deixe que sua vida seja regida por uma bomba relógio. Lembre-se que nos filmes de ação, há sempre um fio que desarma o timer, e a vida real pode não ser tão diferente.

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