“Lança menina, lança todo esse perfume, desbaratina não dá pra fica imune, ao teu amor que tem cheiro de coisa maluca”
Outra geração cresceu ao som do Bonde do Tigrão e Furacão 2000 no Carnaval, cantando desde “vou passar cerol na mão” a “piririm piririm piririm”. As espuminhas ainda eram permitidas, os blocos desfilavam pelas ruas e o espÃrito da alegria era a principal parte da folia.
A última geração cresceu ao som do Funk Carioca e de seus semelhantes. Marchinhas estão sendo proibidas, lança-perfume já é um anfintrião, e poucas pessoas sabem o que realmente foi o costume. As espuminhas são parcialmente proibidas também, e parte da cultura dos blocos não existe mais. Contudo, o espÃrito de festa e alegria ainda continua, com vários shows e apresentações distribuÃdas ao longo da programação.
Não sei dizer qual o Carnaval foi ou é o melhor. Eu cresci no final da segunda geração desse post, e conheço os costumes da última. Às vezes me pego pensando em como devia ser a época da primeira. Coisas que fizeram parte da tradição, foram proibidas ou estão sendo votadas para serem, tornando-se apenas lendas relacionadas ao Carnaval de Rua. Nessa nova Tag, vamos reviver os clássicos dos primeiros carnavais, descobrir suas origens e o porquê de sei “trágico” destino.
O “Lança Perfume” foi muito comum no Brasil da década de 20. Era uma solução composta por Cloreto de Etila, Clorofórmio e essência perfumada. Na teoria, parecia algo inofensivo. As pessoas da época realmente acreditavam nisso, pensando que se tratava apenas de uma substância perfumada que proporcionava a sensação de alegria.
Tanto que em várias músicas e em registros, é possÃvel constatar que fazia parte da folia, sendo mais uma parte da diversão e uma alternativa para “esquentar” o Carnaval. Era um sÃmbolo de confraternização e união dos jovens, sendo muito comum principalmente nos bailes que aconteciam no perÃodo.
Reza à lenda – entrevistas com pessoas que participaram desses carnavais – que o Lança Perfume era utilizado como a espuminha, sendo borrifado em outras pessoas como uma brincadeira (crianças faziam guerrinhas com seus amigos, aplicando a substância nos olhos do coleguinha em virtude de sua ardência). Alguns até utilizavam o produto como forma de paquera, posto que o colocavam no pescoço de seus pretendentes, e ofereciam-se para sentir o cheiro. (OUSADIA PURA RS)
Todavia, assim como cigarro e outras drogas mais antigas, com o tempo foi descoberto que a substância que os foliões acreditavam ser tão boa, era na verdade mais uma droga repleta de efeitos colaterais.
A fragrância do Lança Perfumes é absorvido pela mucosa pulmonar, indo para a corrente sanguÃnea e posteriormente para o rim, fÃgado e sistema nervoso. Ao chegar em seu último destino, a substância libera adrenalina, acelerando a frequência cardÃaca e proporcionando um sentimento de euforia. Contudo, também provoca perturbações auditivas, perda do autocontrole e da capacidade visual.
Assim como grande parte das drogas, o efeito da substância acaba rapidamente, e os seus usuários necessitavam inalar mais para amplificar os seus efeitos. Por conseguinte, a quantidade de seus componentes é aumentada, e os efeitos colaterais se tornam ainda mais drásticos. Desmaios, dificuldade para respirar, convulsões, parada cardÃaca ou até mesmo a mortes. Todas essas reações são encontradas em seu uso exagerado.
Após vários acidentes e algumas mortes, em 1960, o presidente eleito no momento, Jânio Quadros criou um decreto que proibia o uso dos “Lança Perfume”. Todavia, não foi suficiente. E devido ao seu fácil acesso – a droga era contrabandeada do Paraguai, a substância foi novamente presente no Carnaval de Maceió em 1960.
Foi só nos anos 70 que a proibição ficou séria, sendo realizadas vistorias nos foliões e a penalização daqueles que fossem encontradas com a substância. Atualmente, a proibição se encontra no artigo 12 da nossa constituição, sendo a lei 6.368/76. Nela, é caracterizado como criminoso o ato de vender, consumir, transportar ou guardar substâncias entorpecentes, capazes de provocar dependência fÃsica ou psicológica.
0 comentários