Avisto um conhecido se aproximar, enquanto sigo em direção à saída da universidade. Nos cumprimentamos rapidamente, ele me pergunta se está tudo bem, e devolvo perguntando o mesmo. De sua boca saem as palavras “tenho que estar, não é?”, e logo em seguida respondo, com a maior naturalidade “e temos opção?”. E, foi nesse exato instante, que percebi como tudo está tão errado.

Viver não é fácil. Acordar todos os dias e ter ânimo para suportar a rotina maçante que levamos, definitivamente não acontece a todo momento. Haverá dias em que nossos olhos inchados irão denunciar nosso extremo cansaço. Nosso caminhar desengonçado e lento, denunciará nosso desânimo. Também haverá momentos em que não seremos capazes de esconder as lagrimas que lutam para saltar de nossos olhos. A verdade é que não, não temos que estar bem, e sim, temos opção.

Nesse mundo onde o mais valioso é a aparência, acabamos por nos deixar submissos a uma falsa verdade de que temos que estar bem a todo instante. Claro, seria ótimo se essa utopia pudesse se tornar realidade, mas infelizmente não pode. Somos humanos. Somos feitos de carne, ossos, tecidos e de várias outras estruturas que, juntas, compõem o organismo. Contudo, somos, também, feitos de sentimentos. E assim como o amanhã, sentimentos são imprevisíveis.

Não gostamos de estar mal, tampouco gostamos que nos vejam mal. Mascaramos o cansaço com quilos de maquiagem, e alguns litros de energético. Escondemos nossas tristezas com os mais cínicos sorrisos em nossos rostos. A raiva e a angústia mandamos longe com o álcool do final de semana. E assim levamos nossos dias, submetidos à uma regra cruel que nada bom nos oferece.

Ser humano está muito além de ser capaz de pensar e agir. Ser humano é ser feito de complexidades, de defeitos e qualidades. Somos fortes, ao mesmo passo em que somos fracos. Não somos supremos, infalíveis ou intocáveis. Existimos, e, portanto, sofremos. Sofremos para que possamos seguir em frente, para fortalecer o que de mais belo há em nós: a vida.

Se em teus olhos as lágrimas desejam escorrer, deixe-as livre para percorrem seu curso. Se em tua boca há o grito de raiva, libere-o para o mundo. A busca pela felicidade não é uma jornada fácil, tampouco sem perigos. Permita-se sofrer. Permita a vulnerabilidade que em ti existe. E se em algum momento alguém lhe dizer que precisa ficar bem, lembre-se que está tudo bem não estar bem, e que esse sofrer é passageiro.