Um bom tempo atrás eu me fiz uma pergunta que só teria a resposta anos depois. Me perguntei como morrer poderia ser tão difícil, e acabei encontrando uma resposta que talvez eu não estivesse preparado.

A minha verdade é que difícil mesmo é viver. Somos feitos de memórias, pensamentos, informações, sentimentos e muitas outras coisas que sequer existem signos correspondentes para o mundo material. Somos feitos de nosso passado, de nosso presente e, ainda que incerto, de nosso futuro. Viver é suportar todo o nosso vasto universo de complexidades. Não somente suportá-lo, mas entendê-lo.

De nossos passados somos incapazes de abrir mão. Ele esteve ali, está e sempre estará. Foi ele que nos guiou até o presente, que logo também se tornará passado. Viver é ter força para lidar com os fantasmas que nos atormentam, as feridas ardentes que não se cicatrizam, e as memórias intensas que ocupam nossa mente. De nosso passado vem o medo. O medo de que tudo se repita, de que novas feridas se abram, e novos pesadelos ganhem forma.

Viver é aceitar que estamos lutando contra uma eterna maré. Ora estamos sendo arrastados por sua força, ora ela se acalma, e com ela vem a esperança de um dia melhor. Viver é uma inconstante, enquanto a luta é de fato constante. Em certos momentos batemos, em outros apanhamos. Ora rimos, ora nos debulhamos em lágrimas. O que é viver, se não a imperfeita demonstração da complexidade de nosso ser?