FICHA TÉCNICA
Nome: A IncendiáriaAutor: Stephen King
Páginas: 433
Gênero: Thriller | Ficção
Ano: 1980
Editora: Círculo do Livro
Sinopse: Andy McGee e sua esposa Vicky foram usados numa experiência secreta enquanto eram adolescentes. Eles acabaram se casando e tendo uma filhinha, Charlene “Charlie” McGee. A menina acabou herdando os genes modificados dos pais, e nasceu com o dom da pirocinesia, que significa que ela pode atear fogo em tudo que quiser.
Charlie, como é pequena, não sabe controlar seus poderes, e acaba sendo avistada pela Oficina, uma sociedade secreta que investiga e explora humanos com poderes especiais. O livro já começa com Andy e Charlie (Vicky foi assassinata pelos capangas da Oficina, como lido em um flashback) fugindo de seus algozes.
A trama continua com a fuga desesperada de um pai tentando de todas as maneiras salvar a filha, contando com a ajuda de uns, Andy percebe que para escaparem dessa, Charlie talvez tenha que usar seus poderes para matar.
Em seu encalço está o melhor agente da Oficina, Rainbird, um estranho índio que quer matar Charlie e olhar nos seus olhos, pois acredita que terá uma grande revelação por ela ser especial.
As chances de sobrevivência são mínimas, mas Andy e Charlie não desistirão sem lutar.
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Como é do conhecimento de algumas pessoas que nos acompanham, o Stephen King é um de meus autores favoritos, e em minha humildade opinião, um dos melhores escritores da atualidade. Suas narrativas são todas envolventes, e em certo ponto surpreendentes. Além do fato de que mesmo com tantos livros publicados, cada uma de suas histórias reservam peculiaridades e características que as tornam únicas, e nunca repetitivas.
Algum tempo atrás, tive a sorte de encontrar A Incendiáriaem um sebo. E por incrível que pareça, paguei seis míseros reais, para chegar em casa e descobrir que é um livro raro, e vale quase 10x mais do que paguei. Em virtude de toda a propaganda que vi sobre ele (devido ao seu status, e até mesmo o contexto em que foi escrito), decidi ler mais algumas resenhas para massagear meu ego (enaltado pelas boas aquisições). Novamente, estas continuavam a tratar a obra como um elo perdido. Consequentemente, criei grandes expectativas com que o teria naquelas páginas, e de certa forma, me decepcionei.
Não, querido leitor, não estou dizendo que o livro é ruim. Contudo, eu esperava mais. A Incendiária conta a história de um experimento que ocorreu nos anos 80, no qual um grupo de jovens foi submetido a um contato direto com uma substância denominada como Lote 6, e tiveram suas vidas mudadas para sempre. Em troca de 200 reais, 12 universitários se inscreveram. 6 deles receberiam uma substância destilada no sangue, enquanto outros 6, o composto em testes.
E claro, o composto era repleto de efeitos colaterais. Dos seis, dois morreram: um teve uma parada cardíaca e o outro arrancou os próprios olhos. Um ficou doido e foi parar em um hospício, e outros três desenvolveram habilidades especiais. E destes três, dois deles são um elemento fundamental para a história que se segue.
Andrew “Andy” McGee e Victoria “Vicky” Tomlinson se apaixonaram, se casaram, e do fruto de seu amor, nasceu Charlene “Charlie” McGee, a nossa Incendiária. Em virtude dos experimentos que ocorreram com seus pais, a menina desenvolveu o gene do Lote 6, e o aperfeiçoou, dando origem ao temível e desejado Gene Z.
Com apenas dois anos, a garotinha tacava fogo em objetos da casa, e provocava pequenos acidentes. Obviamente, as habilidades desta despertaram o interesse da Oficina, a mesma corporação governamental que havia feito testes em seus pais. E a partir deste momento, a vida da família vira um inferno. Vicky é assassinada cruelmente em busca do paradeiro de Charlie, e pai e filha começam uma fuga cansativa e perigosa para fugir de seus carrascos, e tentar sobreviver (bem 007).
Por incrível que pareça, a trama de A Incendiária é lenta. Em alguns momentos, a leitura pode se tornar cansativa. Por mais que o início aborde a fuga da família, e seja eletrizante, os desdobramentos marcantes e importantes demoram a ocorrer. A história do lote 6 é contato no meio disto tudo, o que faz com que a narrativa flua ainda mais devagar. Andy e Charlie são sempre os alvos em que o holofote se direciona, enfatizando “a mesmice” de sempre (e olha que os dois personagens são carismáticos e encantadores). Acredito que se King tivesse dado mais ênfase à outras personagens – ele faz isto parcialmente com Rainbird -, o livro teria se tornado mais envolvente, fluido e dinâmico.
Por mais que tenha esse pequeno probleminha de início lento, e Charlie e Andy demais, a forma com que King desenvolve e constrói seus personagens é sempre fenomenal (acredito que é este traço que torna seus livros tão diferentes dos demais do estilo). Ele consegue fazer com que o leitor se apegue àqueles, e torça ferozmente para que tudo dê certo. É impossível não detestar John, e desejar que ele vire churrasquinho de dejeto. Contudo, mesmo odiando-o arduamente, fico impressionada com a capacidade de desenvoltura do autor, e a sua criatividade para criar personagens tão distintos e reais.
Junto aos personagens, temos também uma linha de raciocínio (acontecimentos do livro) magistralmente arquitetada e enlaçada. Os acontecimentos guiam o leitor até o final, e fazem com que ele sinta como se tivesse presenciado o amadurecimento da “pequena Charlie” na Incendiária. É comovente ver o quanto ela cresceu e amadureceu em tão poucas páginas, e compreender as mudanças que lhe ocorreram.
Com relação ao final, particularmente, eu achei um pouco decepcionante. Os desdobramentos que levaram até aquele momento foram incríveis, necessários, e até mesmo deliciosos de se ler. King encaixou perfeitamente drama, medo e superação. Foi I-N-C-R-Í-V-E-L o que ele fez, e um dos melhores desenvolvimentos narrativos que já presenciei em seus livros. Mas como disse anteriormente, o final em si foi decepcionante, e rápido demais…
Não gosto quando os acontecimentos que rendem um livro são resolvidos em cinco minutos. Parece que o autor queria aumentar um problema para render história, e depois percebeu que já estava na hora de acabar. E não gostei também das conclusões que foram dadas a Charlie e Andy. Foram repentinas e cruéis.
De uma maneira geral, embora alguns defeitos tenham sobreposto determinadas qualidades, fazendo com que o livro em si perdesse pontos na minha classificação mental, eu recomendaria para os fãs de terror. Como vocês já devem ter percebido, A Incendiária é sim um bom livro. Nada de menos poderia ser esperado do Rei do Terror. Porém, acredito que existem obras melhores deste, e que faltou um “elemento surpresa” e uma peculiaridade mais marcante para torná-lo único. Mesmo tendo um enredo diferente, foi uma história comum demais, sem grandes surpresas ou promessas.
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CURIOSIDADE: A narrativa de A Incendiária é rica em referências de histórias paralelas, que tem certa relação com a sua, como acontecimentos de Admirável Mundo Novo, entre outros. E cara, isso foi genial. As referências enriqueceram a história, completando-a e embelezando. Foi a primeira vez que li um livro que fizesse isto, e acredito ferozmente que não será a última.
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