FICHA TÉCNICA
Nome: Aniquilação
Autor: Jeff Vandermeer
Páginas: 208
Gênero: Ficção | Ficção Científica | Sci-fi
Ano: 2014
Editora: Intrínseca
Sinopse: A Área X está isolada do restante do mundo há décadas, e a natureza tomou para si os últimos vestígios da presença humana. Uma primeira expedição de reconhecimento voltou de lá relatando uma terra intocada, um paraíso edênico; a segunda terminou em suicídio em massa; a terceira, em um tiroteio dentro do próprio grupo. Até que os membros da décima primeira expedição retornaram como meras sombras do que eram antes e, após algumas semanas, morreram de câncer. Em Aniquilação, primeiro volume da trilogia Comando Sul, o leitor se junta à décima segunda expedição. O novo grupo é formado por quatro mulheres: uma antropóloga, uma topógrafa, uma psicóloga — líder da missão — e uma bióloga, a narradora do livro. Seus objetivos são mapear o terreno, identificar todas as mudanças ambientais, monitorar as relações entre elas próprias e, acima de tudo, não se contaminarem. As mulheres atravessam a fronteira esperando o inesperado... e é exatamente isso o que encontram. Mas o que de fato vai definir os rumos da expedição não é o que está lá, e sim o que elas trazem consigo desde o outro lado da fronteira e os segredos que guardam umas das outras.
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"Tudo o que ouvíamos era aquele gemido baixo. O efeito que ele produzia não pode ser entendido por quem não esteve ali. A beleza de tudo também não, e, quando passamos a ver beleza na desolação, algo muda dentro de nós. A desolação tenta nos colonizar"
Apaixonado pelos romances do gênero jovem-adulto que sou, encontrar um bom livro que me faça sair da rotina é um tanto quanto difícil. Entretanto, sou grato pelo acaso que me levou a descobrir a trilogia Comando Sul, escrita pelo autor Jeff Vandermeer. Foi em uma dessas minhas andanças pelo YouTube que acabei descobrindo o trailer de um filme que será lançado em 2018 e terá Natalie Portman e Gina Rodriguez no cast. Assisti sem esperar muito, mas o que acabei encontrando me deixou não somente animado, como muito curioso, e essa curta "jornada" teve como resultado a leitura quase que imediata do livro que originou o filme.
Aniquilação, o primeiro de uma trilogia, é um livro capaz de dividir as opiniões mais extremas. Se por um lado alguns acreditam que a história é bizarra demais e por isso não deve ser lida, outros acreditam que o new weird é exatamente o que torna o livro tão incrível. Mas, quando se trata de livros, o melhor é a gente mesmo descobrir, e foi exatamente isso que eu fiz.
Diferente de tudo o que eu já havia lido do gênero ficção (sci-fi), Aniquilação traz uma proposta incomum para o que seria o mais novo inimigo dos humanos. Claro, a ideia de que nossa destruição viria como resposta da própria natureza não é exatamente nova. Dessa forma, o que diferencia a narrativa escrita por Vandermeer das demais é criatividade e originalidade com que ele escolhe desenvolver essa "resposta natural" - será mesmo natural? Descobrirei quando terminar a trilogia.
"Mas ali estava ela, cercada por arbustos e semioculta pelo acúmulo de musgo, do lado esquerdo da trilha: uma construção circular de pedra acinzentada que parecia ser uma mistura de cimento e conchas do mar trituradas. Media cerca de vinte metros de diâmetro e se elevava a uns vinte centímetros do solo. Nada estava gravado ou escrito em sua superfície, nada que desse qualquer ideia de sua função ou da identidade de seus construtores."
Narrado pela perspectiva de uma Bióloga - sem nome, como todos os demais personagens, que recebem no máximo algum adjetivo para serem referenciados - o livro conta a história de um grupo de mulheres que fazem parte da décima segunda expedição à Área X, uma região isolada, onde são poucos os vestígios da presença humana que um dia residira naquele lugar. Tomada pela natureza, a Área X é um local de mistérios inexplorados, palco de anomalias e expedições duvidosas.
Para essa expedição específica foram escolhidas mulheres de profissões diferentes, cada uma tendo seu papel na equipe: a Bióloga (e protagonista), a Psicóloga (tida como uma espécie de líder) - a Antropóloga e a Topógrafa. Todas essas mulheres passaram por um treinamento de sobrevivência, além de sessões com a psicóloga onde foram preparadas para embarcar nessa expedição. Porém mesmo os momentos anteriores já eram recheados de segredos e omissões.
Imagine encontrar um livro cuja riqueza de detalhes e a narrativa incomum te prendem sem que você consiga se livrar da vontade de descobrir o final daquela história. Bem, foi exatamente isso que Aniquilação me proporcionou.
"Nada que esteja vivo e respire é capaz de objetividade total - nem mesmo no vácuo, nem mesmo se tudo o que aquela mente possuir for uma ânsia pela verdade capaz de qualquer sacrifício."
Vandermeer acrescentou em sua obra ricos detalhes do ambiente, de forma a nos fazer imaginar exatamente a região da Área X. Não somente isso, tais detalhes nos fazer mergulhar de cabeça na mente da protagonista - a Bióloga -, visto que a observação aguçada faz parte de sua profissão e paixão. De maneira a quase fazer uma ilustração em palavras do local, somos imersos numa realidade inesperada, recheada de existências anormais e assustadoras.
O livro, que é na verdade o diário de bordo da Bióloga, registra cada um de seus momentos ao longo da expedição: suas dúvidas, seus anseios, suas experiências, sua sobrevivência. Ficamos angustiados quando a personagem sente angústia, ficamos ofegantes quando a personagem corre perigo, e ficamos aliviados quando o perigo passa e o que sobra é a beleza de um local tão inexplorado e repentino. Tudo isso só é capaz porque o autor conseguiu, com maestria, unir o leitor à personagem, nos transformando em um só, nos fazendo vivenciar o que a personagem vivencia, mas ainda assim, manter a distância necessária para analisar criticamente toda aquela situação que foge de qualquer um dos padrões esperados para o que potencialmente seria o início de nosso fim.
"Aquilo que morre pode voltar a conhecer a vida na morte porque nem tudo que apodrece é esquecido, e ao se reanimar caminhará pelo mundo em um êxtase de ignorância..."
A história, ainda que "bizarra", é capaz de nos proporcionar uma imersão completa ao mundo em que as personagens foram inseridas, e nos dá uma alternativa bastante surpreendente para o que poderia ser os primeiros momentos do nosso arrebatamento - ou talvez, o início da evolução, quem sabe?
Recebendo um final digno para o primeiro de uma trilogia, Aniquilação, como todo e qualquer livro, divide opiniões. Mas uma coisa é certa, trata-se de uma experiencia marcada pela originalidade, pela criatividade inusitada e pela genialidade na "manipulação" de palavras. Então aqui vai minha dica: se permita atravessar á fronteira invisível junto à 12º Expedição, e descubra entre tantos mistérios a paisagem exuberante daquele novo ecossistema, às criaturas impossíveis que ali habitam e a verdade sobre as expedições.
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| (Acervo pessoal) |
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