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Resenha | Cinquenta Tons de Cinza - E. L. James

19:31Ayllana Ferreira


FICHA TÉCNICA

Nome: Cinquenta Tons de Cinza
Autora: E L James
Páginas: 455
Gênero: Hot | Romance
Editora: Instrínseca
Sinopse: Quando Anastasia Steele entrevista o jovem empresário Christian Grey, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente dominador. Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que, a despeito da enigmática reserva de Grey, está desesperadamente atraída por ele. Incapaz de resistir à beleza discreta, à timidez e ao espírito independente de Ana, Grey admite que também a deseja — mas em seus próprios termos.

Chocada e ao mesmo tempo seduzida pelas estranhas preferências de Grey, Ana hesita. Por trás da fachada de sucesso — os negócios multinacionais, a vasta fortuna, a amada família —, Grey é um homem atormentado por demônios do passado e consumido pela necessidade de controle. Quando eles embarcam num apaixonado e sensual caso de amor, Ana não só descobre mais sobre seus próprios desejos, como também sobre os segredos obscuros que Grey tenta manter escondidos...


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Sejam bem-vindos, letterianos

Em meados de 2008 a Record lançou uma novela chamada Os Mutantes: Caminhos do Coração. A produção era terrível: más atuações, história cheia de furos e efeitos-especiais deprimentes. Mas mesmo sendo a porcaria que foi, a telenovela conquistou milhares de fãs de diferentes fachas etárias inclusive eu e se tornou um sucesso – entendam que a ideia de sucesso é relativo euhhaue, ainda mais para uma novela da emissora -, com direito a álbum de figurinha, camisetas personalizadas, CD com trilha sonora própria da dramaturgia, entre outros apetrechos que marcaram a época. Depois, temos a mesma história se repetindo com Rebelde e Crepusculo, outras duas produções com qualidades questionáveis, e que mesmo assim conquistaram milhares de fãs. Um se tornou a novela que marcou uma geração, o outro, um best-seller.

E é aí que você me pergunta, qual a relação disso tudo com Cinquenta Tons de Cinza?! É simples. Cinquenta Tons de Cinza espelha novamente a mesma situação de “seus antepassados”, uma obra com péssima qualidade, que ainda assim se tornou um sucesso de vendas olha eu aqui novamente. Sendo sincera com vocês, o livro é mal escrito, clichê, romantiza um relacionamento abusivo, é de certa forma machista, e os personagens são tão profundos quanto uma porta.

E assim como eu não perdia um capítulo dos Mutantes, tinha vários acessórios de Rebelde, inclusive, uma mochila de rodinha e devorei Crepúsculo – li todos os livros em cinco dias -, também viciei em Cinquenta Tons quanto comecei a ler. ME JULGUEM! Beem, como já diria nosso polêmico Christian Grey – protagonista da saga -, tenho gostos peculiares, vocês não entenderiam uehahuae.

Na trama, temos a história da sem sal, insegura e imatura Anastasia Steele, que após entrevistar o multimilionário, galã e complexo Christian Grey, acaba se apaixonando pelo lobo mau. Chicotes, suspensão, gelinho ou o que preferir. Digamos que Anastasia se vê extremamente encantada pelo milionário, e ele por ela. Só que não é um relacionamento comum. Há muitos anos atrás, o protagonista teve um passado cruel, e para salvar de si mesmo, ele resolve se envolver no mundo do sadomasoquismo.

“ – Isso quer dizer que você vai fazer amor comigo hoje à noite, Christian?Puta merda. Será que acabei de dizer isso? Ele fica boquiaberto, mas logo se recupera.- Não, Anastasia, não quero dizer isso. Em primeiro lugar, eu não faço amor. Eu fodo... com força” (p. 89) -> CLARO QUE EU TERIA QUE ESCOLHER ESSE CLICHÊ DE TODA RESENHA!

Já vê a treta?! A Ana e a sua inocência decidem entrar no jogo do Lobo Mau, e é aí que toda a ousadia e erotismo da obra começam. Aproveitando tal deixa para a primeira alfinetada, uma coisa que me incomodou bastante foi a forma com que E L James – autora – descreveu as cenas de sexo. Em todos os casos, a escritora utilizou dos mesmos bordões e expressões, fora que as cenas pareciam sempre iguais. Faltou novidade, profundidade e descrições. Foi mais do mesmo, e um mais do mesmo mal escrito, cansativo e superficial. Engana-se quem pensa que tal aspecto é uma característica das partes picantes. Até mesmo no decorrer do texto, é perceptível esse mesmo problema. Falta de domínio sobre as ferramentas de escrita.

Outro ponto que me incomodou na leitura foi o excesso de vírgulas e orações curtas, parecia que a personagem – o livro é narrado pela perspectiva da Anastasia – estava sempre desesperada. Acredito que se a autora tivesse trabalhado com palavras variadas e orações mais extensas, o livro teria se tornado melhor e menos cansativo.

PRÓXIMA ALFINETADA... Hahaha, hora de falar dos personagens! A Anastasia, como já devem ter percebido, só me provocou revolta. Ela consegue ser a personificação de todos os 3 I’s que são chatos em qualquer protagonista: insegura, insistente e indecisa. Esta é completamente contrária ao tipo de mocinha que eu defendo que devem existir nas obras literárias para romper com o preconceito, sendo só mais uma representação do machismo na fila do pão, e um tipo de representatividade que não deveria mais ser tão presente no século em que vivemos.

Falando em pontos ruins, senti como se E L James estivesse romantizando o relacionamento abusivo. Sendo sincera, não entendo de sado, mas respeito quem pratica e acho que é uma escolha pessoal. Mas eu não gostei da protagonista se derretendo – achando lindo e divertido - por um cara extremamente controlador, ciumento e possessivo em todos os momentos. Não sei se em relações de Submissa / Dominador é assim, mas esse detalhe em especial me incomodou bastante: a normalização da possessão e da agressividade em um relacionamento.

Em contraponto ao clichê da Ana, o personagem do Christian Grey é bem emblemático. Já recebi alguns spoilers de tudo que ele sofreu em sua infância, e na época tive dó. Hoje em dia ainda tenho, contudo não vejo todo o glamour e encantado que muitas mulheres veem nele. Em grande parte do livro, quis mata-lo pelo que estava fazendo com o coração doce mocinha.

Alfinetada três, eu acho... Em alguns momentos, a narrativa se torna extremamente clichê e previsível, mas não um clichê bom, e sim do estilo irritante. Senti muita semelhança com aspectos de Crepúsculo, o que provocou certa raivinha em mim, uma vez que mesmo a trama sendo baseada na dos vampiros, acredito sim que a autora tinha a capacidade de fazer diálogos mais interessantes e inteligentes. Ao invés de se inspirar nas partes legais, ela se baseou nas maçantes de Crepúsculo, naqueles discursos do Edward e da Bella que são o FIM DO FIM DA PICADA.

Por mais que a escrita da autora deixe muito a desejar, junto ao desenvolvimento dos personagens que é extremamente precário, a história em si é muito interessante. Muitos assuntos polêmicos e importantes de serem abordados foram descritos na trama, como pedofilia, relacionamento abusivo, prostituição, amor, entre outros. Ou seja, rica em conteúdo, mas falha em domínio. Novamente, acredito que a escritora não soube trabalhar todos esses detalhes no livro, só os deixou no ar. Acho que ainda existe muito material bruto que pode ser trabalhado e explorado nas duas continuações, e a minha esperança é que a saga tenda a prosseguir. Não vou mentir, a história me prendeu e me viciou, eu estava lendo porque queria e porque estava gostando também.

De uma maneira geral, Cinquenta Tons não é um livro que eu recomendaria. Acredito que existem melhores do estilo. Mas como sempre dizemos, cada leitor cria uma versão própria e uma experiência daquilo que lê, em outras palavras, existem pessoas que podem achar a obra maravilhosa. Portanto, não se limitem com a minha resenha, criem suas próprias opiniões e me digam, o que você achou, querido letteriano.



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