FICHA TÉCNICA
Nome: Cinquenta Tons de Cinza
Autora: E L James
Páginas: 455
Gênero: Hot | Romance
Editora: InstrÃnseca
Sinopse: Quando Anastasia Steele entrevista o jovem empresário Christian Grey, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente dominador. Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que, a despeito da enigmática reserva de Grey, está desesperadamente atraÃda por ele. Incapaz de resistir à beleza discreta, à timidez e ao espÃrito independente de Ana, Grey admite que também a deseja — mas em seus próprios termos.Chocada e ao mesmo tempo seduzida pelas estranhas preferências de Grey, Ana hesita. Por trás da fachada de sucesso — os negócios multinacionais, a vasta fortuna, a amada famÃlia —, Grey é um homem atormentado por demônios do passado e consumido pela necessidade de controle. Quando eles embarcam num apaixonado e sensual caso de amor, Ana não só descobre mais sobre seus próprios desejos, como também sobre os segredos obscuros que Grey tenta manter escondidos...
_________________________________________________________________________________
Sejam bem-vindos, letterianos
Em meados de 2008 a Record lançou uma novela chamada Os
Mutantes: Caminhos do Coração. A produção era terrÃvel: más atuações, história
cheia de furos e efeitos-especiais deprimentes. Mas mesmo sendo a porcaria que
foi, a telenovela conquistou milhares de fãs de diferentes fachas etárias inclusive
eu e se tornou um sucesso – entendam que a ideia de sucesso é relativo
euhhaue, ainda mais para uma novela da emissora -, com direito a álbum de
figurinha, camisetas personalizadas, CD com trilha sonora própria da
dramaturgia, entre outros apetrechos que marcaram a época. Depois, temos a
mesma história se repetindo com Rebelde e Crepusculo, outras duas produções com
qualidades questionáveis, e que mesmo assim conquistaram milhares de fãs. Um se
tornou a novela que marcou uma geração, o outro, um best-seller.
E é aà que você me pergunta, qual a relação disso tudo com
Cinquenta Tons de Cinza?! É simples. Cinquenta Tons de Cinza espelha novamente
a mesma situação de “seus antepassados”, uma obra com péssima qualidade, que
ainda assim se tornou um sucesso de vendas olha eu aqui novamente. Sendo
sincera com vocês, o livro é mal escrito, clichê, romantiza um relacionamento
abusivo, é de certa forma machista, e os personagens são tão profundos quanto
uma porta.
E assim como eu não perdia um capÃtulo dos Mutantes, tinha
vários acessórios de Rebelde, inclusive, uma mochila de rodinha e devorei
Crepúsculo – li todos os livros em cinco dias -, também viciei em Cinquenta
Tons quanto comecei a ler. ME JULGUEM! Beem, como já diria nosso polêmico Christian
Grey – protagonista da saga -, tenho gostos peculiares, vocês não entenderiam
uehahuae.
Na trama, temos a história da sem sal, insegura e imatura
Anastasia Steele, que após entrevistar o multimilionário, galã e complexo
Christian Grey, acaba se apaixonando pelo lobo mau. Chicotes, suspensão,
gelinho ou o que preferir. Digamos que Anastasia se vê extremamente encantada
pelo milionário, e ele por ela. Só que não é um relacionamento comum. Há muitos
anos atrás, o protagonista teve um passado cruel, e para salvar de si mesmo, ele
resolve se envolver no mundo do sadomasoquismo.
“ – Isso quer dizer que você vai fazer amor comigo hoje à noite, Christian?Puta merda. Será que acabei de dizer isso? Ele fica boquiaberto, mas logo se recupera.- Não, Anastasia, não quero dizer isso. Em primeiro lugar, eu não faço amor. Eu fodo... com força” (p. 89) -> CLARO QUE EU TERIA QUE ESCOLHER ESSE CLICHÊ DE TODA RESENHA!
Já vê a treta?! A Ana e a sua inocência decidem entrar no
jogo do Lobo Mau, e é aà que toda a ousadia e erotismo da obra começam. Aproveitando
tal deixa para a primeira alfinetada, uma coisa que me incomodou bastante foi a
forma com que E L James – autora – descreveu as cenas de sexo. Em todos os
casos, a escritora utilizou dos mesmos bordões e expressões, fora que as cenas
pareciam sempre iguais. Faltou novidade, profundidade e descrições. Foi mais do
mesmo, e um mais do mesmo mal escrito, cansativo e superficial. Engana-se quem
pensa que tal aspecto é uma caracterÃstica das partes picantes. Até mesmo no
decorrer do texto, é perceptÃvel esse mesmo problema. Falta de domÃnio sobre as
ferramentas de escrita.
Outro ponto que me incomodou na leitura foi o excesso de
vÃrgulas e orações curtas, parecia que a personagem – o livro é narrado pela
perspectiva da Anastasia – estava sempre desesperada. Acredito que se a autora
tivesse trabalhado com palavras variadas e orações mais extensas, o livro teria
se tornado melhor e menos cansativo.
PRÓXIMA ALFINETADA... Hahaha, hora de falar dos personagens!
A Anastasia, como já devem ter percebido, só me provocou revolta. Ela consegue
ser a personificação de todos os 3 I’s que são chatos em qualquer protagonista:
insegura, insistente e indecisa. Esta é completamente contrária ao tipo de
mocinha que eu defendo que devem existir nas obras literárias para romper com o
preconceito, sendo só mais uma representação do machismo na fila do pão, e um
tipo de representatividade que não deveria mais ser tão presente no século em
que vivemos.
Falando em pontos ruins, senti como se E L James estivesse
romantizando o relacionamento abusivo. Sendo sincera, não entendo de sado, mas
respeito quem pratica e acho que é uma escolha pessoal. Mas eu não gostei da
protagonista se derretendo – achando lindo e divertido - por um cara
extremamente controlador, ciumento e possessivo em todos os momentos. Não sei
se em relações de Submissa / Dominador é assim, mas esse detalhe em especial me
incomodou bastante: a normalização da possessão e da agressividade em um
relacionamento.
Em contraponto ao clichê da Ana, o personagem do Christian
Grey é bem emblemático. Já recebi alguns spoilers de tudo que ele sofreu em sua
infância, e na época tive dó. Hoje em dia ainda tenho, contudo não vejo todo o
glamour e encantado que muitas mulheres veem nele. Em grande parte do livro,
quis mata-lo pelo que estava fazendo com o coração doce mocinha.
Alfinetada três, eu acho... Em alguns momentos, a narrativa
se torna extremamente clichê e previsÃvel, mas não um clichê bom, e sim do
estilo irritante. Senti muita semelhança com aspectos de Crepúsculo, o que
provocou certa raivinha em mim, uma vez que mesmo a trama sendo baseada na dos
vampiros, acredito sim que a autora tinha a capacidade de fazer diálogos mais
interessantes e inteligentes. Ao invés de se inspirar nas partes legais, ela se
baseou nas maçantes de Crepúsculo, naqueles discursos do Edward e da Bella que
são o FIM DO FIM DA PICADA.
Por mais que a escrita da autora deixe muito a desejar,
junto ao desenvolvimento dos personagens que é extremamente precário, a
história em si é muito interessante. Muitos assuntos polêmicos e importantes de
serem abordados foram descritos na trama, como pedofilia, relacionamento
abusivo, prostituição, amor, entre outros. Ou seja, rica em conteúdo, mas falha
em domÃnio. Novamente, acredito que a escritora não soube trabalhar todos esses
detalhes no livro, só os deixou no ar. Acho que ainda existe muito material
bruto que pode ser trabalhado e explorado nas duas continuações, e a minha
esperança é que a saga tenda a prosseguir. Não vou mentir, a história me
prendeu e me viciou, eu estava lendo porque queria e porque estava gostando
também.
De uma maneira geral, Cinquenta Tons não é um livro que eu
recomendaria. Acredito que existem melhores do estilo. Mas como sempre dizemos,
cada leitor cria uma versão própria e uma experiência daquilo que lê, em outras
palavras, existem pessoas que podem achar a obra maravilhosa. Portanto, não se
limitem com a minha resenha, criem suas próprias opiniões e me digam, o que
você achou, querido letteriano.
0 comentários