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Resenha | Aika: A Canção dos Cinco - Lúcia Lemos

19:00Ayllana Ferreira


FICHA TÉCNICA

Nome: Aika – A Canção dos Cinco
Autora: Lúcia Lemos
Páginas: 555
Gênero: Fantasia | Aventura
Ano: 2016
Editora: Publicação Independente
Sinopse: Gattai é um mundo fantástico assolado por estranhas catástrofes naturais e uma interminável guerra entre as raças que o habitam. Em meio ao caos, surge um guerreiro com asas de Fênix destinado a trazer o equilíbrio entre a natureza e suas criaturas. Porém, ele foi amaldiçoado por um terrível demônio que devora sua alma. A única pessoa que pode salvá-lo não pertence à Gattai, e sim ao nosso mundo: Aika Akatsuki dos Anjos, uma estudante japonesa mestiça, nascida no Brasil e grande fã de histórias de magia e fantasia. A jovem que enfrenta diariamente a dura rotina de estudos e discriminação por sua ascendência vê sua vida transformada com a descoberta da existência de Gattai e de seu grande ídolo. E para salvá-lo, ela terá que enfrentar seus medos, atravessar um portal mágico, lutar contra terríveis criaturas… tudo isso sem ser reprovada no ensino médio. Aika voará em dragões, aprenderá o que é realmente uma guerra e lutará para salvar o herói não apenas de grandes inimigos, mas de si mesmo.

“Aika - A Canção dos Cinco” é o primeiro livro de uma saga repleta de ação e magia, obra que alcançou milhares de leituras e se tornou destaque da categoria Fantasia na plataforma Wattpad. Um livro que joga com os clichés das histórias e apresenta personagens cativantes, além de ensinar valores como amizade, amor e perseverança.


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Mapa de Gattai

Às vezes, as tramas mais simples são aquelas que carregam as maiores riquezas e são as mais provocadoras. É impressionante como alguns livros são capazes de nos tocar de uma maneira íntima e especial, marcando-nos de uma maneira própria.

Lembro-me quando entrei em contato com a Lúcia, autora de Aika, pela primeira vez. Desde o início eu me surpreendi com sua história de vida: uma mulher, que sozinha escreveu um livro, editou, ilustrou, publicou e divulgou. É claro que não foi uma ação completamente solitária, mas enfatizo no sozinha para dizer que foram atitudes de iniciativa própria, e com a garra de uma guerreira que enfrentou e ainda enfrenta longas batalhas todos os dias nesse processo (ser escritor no Brasil não é algo muito fácil, ainda mais de uma história que evoca um universo próprio, baseado na Cultura Japonesa). Quantas vezes vemos pessoas que desistem dos seus sonhos pela dificuldade e o medo de não dar certo?! E aí, do nada, caí uma autora de paraquedas no meu feed, me oferecendo a chance de resenhar uma história maravilhosa feita e vivida (vivida por causa da experiência de criação da obra) pela mesma?!
Não, não estamos vendendo um patrocínio sem juízo de valor. Para aqueles que nos acompanham, já devem ter percebido que o nosso maior compromisso é com a verdade. Portanto, não vale, e nunca valerá, mentir para vocês, e vender um peixe que não recomendaríamos apenas para agradar os parceiros, já que o nosso compromisso verdadeiro é com vocês, queridos leitores, que nos acompanham e nos motivam a continuar batalhando pelos nossos sonhos.  Posto isso, venho por meio desta compartilhar a minha experiência única e especial de leitura com Aika.
A escrita da autora é simples, e a cada parágrafo, nos sentimos mais envolvidos e tocados com a história que compõe aquelas páginas. Me apaixonei logo de início, e a minha admiração se tornou ainda maior ao decorrer dos capítulos. A trama tem todo um ar doce e inocente, como se fosse a transposição de um sonho em realidade. Todavia, mesmo tendo essa parte de sonho de princesa (a trama em si é o sonho de todo fã de animes), alguns acontecimentos na obra levantam questionamentos muito importantes, tais como o empoderamento da mulher e a desigualdade social.
Aika foi um livro escrito por Lúcia Lemos, uma escritora brasileira que ainda está tentando se consolidar no nosso mercado literário. E, diferentemente dos livros tradicionais, essa é composta tanto por partes escritas quanto ilustradas. Sim, isso mesmo! Ao longo dos capítulos, existem ilustrações em formato de mangá – feitos pela própria escritora – que contam trechos importantes da trama. Além disso, Lúcia ainda incluiu indicações de playlist que seriam como a “trilha sonora do momento”, e glossários para auxiliar na compreensão ao final daqueles. Cara, eu adorei a experiência que todos esses elementos juntos possibilitaram. A leitura foi ainda mais rica, completa e de certa forma sentimental, uma vez que o preenchimento de todos esses quesitos promoveu novas sensações e memórias que não surgiriam apenas com palavras escritas.
Em Aika, uma menina é excluída e discriminada (Aika é o seu nome, assim como o título do escrito) em virtude de seu sangue (mestiço), seus hobbies (uma Otaku de nascença) e o seu sonho (ser uma mangaká). Em uma realidade paralela, Gattai, Kuikara é um jovem guerreiro alado, que precisa lutar todos os dias contra os seus próprios demônios (literalmente), e ainda pela paz mundial.  Na nossa realidade, Kurikara é na verdade o personagem de um dos animes favoritos da nossa protagonista, e uma de suas inspirações para continuar suportando a realidade muitas vezes cruel e solitária em que esta está inserida.
Após ter uma série de sonhos que previam os acontecimentos do anime antes mesmo deles terem ocorrido, a menina começa a se questionar sobre a realidade daqueles. Seria na verdade premonições, avisando que o universo de Gattai era real, e o pior, seu herói estaria em perigo, e ela era a única que poderia salvá-lo?  Assim, meio que no impulso e na esperança, a mocinha embarca em uma jornada mágica e audaciosa a fim de buscar um felizes para sempre para a sua história e a fictícia. Ao chegar em Gattai, a protagonista descobre um novo universo, em que apenas a coragem não será suficiente para salvar tudo e todos que ama.
Fazia tempo que eu não lia um livro assim, capaz de me chocar e tocar de maneiras tão íntimas e pessoais. A narrativa desenvolvida por Lúcia tem tudo: amor, ação, sonhos, frustrações, comédia, e até mesmo um pouquinho de drama. Na minha humilde opinião, é uma das tramas mais completas que eu tive o prazer de ler em toda a minha vida. Além de tudo isso, ainda tem uma história envolvente, inteligente e criativa. Foi a primeira vez em que vi um desenrolar de acontecimentos tão único, bem trabalhado e completo.
Para tornar tudo ainda melhor, tem a construção dos personagens que são por si só, um traço marcante da personalidade da autora. Todos são pessoas comuns, mas ricas e densas em questão de vivência e descrições.
A cada página do livro, eu me sentia mais representada pela Aika. Ela é uma menina simples, com um bom coração, que está disposta a fazer qualquer coisa pelas pessoas que ama, mas que ao mesmo tempo, sofre por um coração partido, pelo bullying, pela solidão e tem as suas próprias batalhas diárias. De todas as mocinhas que já encontrei, mesmo que me irritei profundamente em alguns momentos com aquela, foi a que mais me identifiquei, e mais senti que representava grande parte das garotas que já conheci. Outra coisa que gostei bastante foi de um lado mais sapequinha e taradenho que foi mostrado da personagem, afinal, o ser humano é assim, santo e safado, forte e fraco, triste e feliz… ou seja, como já diriam várias músicas, uma contradição ambulante.
Vi nos medos de Aika os meus medos, na fidelidade de Kurikara a fidelidade que tenho com meus amigos, na personalidade de Riko tudo aquilo que mais admiro, e torço para que todas as mulheres tenham também ou desenvolvam um dia: força e coragem para buscar igualdade. E vi em Iruka uma forma leve de ver a vida, mas que ao mesmo tempo, não desqualifica e nem desmerece os problemas que vivemos todos os dias em busca de uma sociedade mais justa.
Aika
Lúcia utilizou da ficção para fazer um retrato da realidade, e acho que isso foi um de seus maiores acertos. Ela utilizou de situações “comuns” do cotidiano da heroína, que são o reflexo de problemas que enfrentamos todos os dias, para levantar questionamentos sobre atitudes e ideologias defendidas na nossa sociedade. E a parte mais mágica foi que ela fez isso de maneira sutil e inteligente. Não tentou vender nenhuma opinião, tampouco um posicionamento. Apenas levantou um questionamento sobre atitudes que são consideradas como normais, mas que na verdade não são, como o próprio machismo em si.
Em vários momentos, senti como se estivesse ocorrendo um debate entre mim, leitora, e a escritora, no qual dialogávamos e debatíamos nossas opiniões não só sobre “assuntos polêmicos que precisam ser debatidos”, mas sobre a vida como um todo: sonhos, conquistas, amor, aventuras, entre outros. Consequente, esta relação criou um certo ar de reconhecimento e intimidade entre mim e a história.
Agora, mudando completamente de assunto, e antes que eu me esqueça, é importante falar também das ilustrações que compõe a trama. Gente, é uma graça! Tudo lindo, com traços caprichados e “únicos”, um estilo fofo e simples, e uma construção de cenas delicada, que exalta ainda mais o ar de inocência e delicadeza que eu disse logo no início dessa resenha. Se tudo der certo, no final deste post, postarei algumas delas para que vocês possam ver.
Por fim, é importante comentar sobre o final. Vocês sabem como eu prezo por um final bem construído e coerente. Aquelas resoluções em cinco páginas são para mim o maior assassinato que um escritor pode causar a sua própria história, e fazer com que me dê certo ranço do que estou lendo. Mas, diferentemente das últimas obras que resenhei, Aika termina de uma maneira delicada e contínua. Delicada em um sentido de ser extremamente doce (repito muito as palavras doce e delicada porque representam o que eu senti enquanto lia a obra) e gentil. Eu me emocionei profundamente com os desdobramentos, e acredito que isto ocorreu por causa do final ter sido bem desenvolvido e trabalhado. Foi uma vitória que ocorreu aos poucos, foi gradual e crescente, nada vapiti vulpiti, e tudo se resolveu. E como já diriam também as grandes histórias, uma vitória conseguida aos poucos é ainda mais saborosa do que aquela repentina.
De uma maneira geral, Aika foi um livro que me marcou. Me marcou por suas características tão diferentes, pela experiência única de leitura, e sobre sua maneira fictícia, porém ao mesmo tempo real de representar a realidade do dia-a-dia de várias garotas. Recomendo para todos a leitura, e, para aqueles que estão com a situação apertada no momento, a iniciativa de divulgação da obra surgiu atrelada ao wattpad, posto isso, o exemplar está disponível lá também. E para aqueles que são amantes de livros físicos e que podem comprar no momento, recomendo que comprem <3. Aika está disponível no Mercado Livre, sendo vendido pela própria escritora. A versão impressa consegue ser ainda mais perfeita e apaixonante do que as outras.
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