FICHA TÉCNICA
Nome: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Páginas: 215
Gênero: Ficção cientÃfica
Editora: Biblioteca Azul
Sinopse: A obra de Bradbury descreve um governo totalitário, num futuro incerto mas próximo, que proÃbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruÃdo e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instaladas em suas casas ou em praças ao ar livre. O livro conta a história de Guy Montag, que no inÃcio tem prazer com sua profissão de bombeiro, cuja função nessa sociedade imune a incêndios é queimar livros e tudo que diga respeito à leitura. Quando Montag conhece Clarisse McClellan, uma menina de dezesseis anos que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo, ele percebe o quanto tem sido infeliz no seu relacionamento com a esposa, Mildred. Ele passa a se sentir incomodado com sua profissão e descontente com a autoridade e com os cidadãos. A partir daÃ, o protagonista tenta mudar a sociedade e encontrar sua felicidade.
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"Que progresso estamos fazendo. Na Idade Média, teriam queimado a mim; hoje em dia, eles se contentam em queimar meus livros" (p.11)
Existem alguns livros que são surpreendentes. Por mais que
se enquadrem como narrativas ficcionais, as várias metáforas e ironias
inseridas em suas composições fazem crÃticas inteligentÃssimas sobre a
realidade em que vivemos, e nos fazem refletir sobre vários aspectos que as
vezes, consideramos como comuns, mas que na verdade não são. E nesses casos em
especÃfico, a ficção pode ensinar muito mais que um livro didático ou
histórico.
A proposta de Fahreint é bem interessante: uma sociedade
futurÃstica no qual ler livros se tornou um hábito proibido. Os bombeiros, que
antes apagavam o fogo, agora tem como missão ascendê-lo, e queimar qualquer
passado que mostre uma sociedade diferente daquela. A TV dominou o dia-a-dia
das pessoas, se tornando parte da famÃlia. Os laços estão fragilizados, e as
pÃlulas são os melhores amigos do povo. No meio disso tudo, a trama é narrada a
partir da visão de Guy Montang, um bombeiro que presencia uma situação extrema
em que uma senhorinha prefere se matar do que viver sem suas obras (o Estado
descobriu que ela possuÃa uma biblioteca ilegal, e a pena para casos assim é a
queima dos exemplares). Junto a isso, o protagonista conhece também a
instigante Clarissa, uma menina de 17 anos repleta de vida que o faz questionar
sobre a sua felicidade, e até mesmo sobre a função do ato em si de pensar (não
é algo muito comum na sociedade que abriga a história).
"Nessa noite, porém, alguém cometera um deslize. Essa mulher estava estragando o ritual. Os homens estavam fazendo muito barulho, rindo, fazendo piadas para encobrir o terrÃvel silêncio acusador da mulher lá embaixo. Ela fazia os cômodos vazios rugirem acusações e desprenderem uma fina camada de pó de culpa que era aspirada pelas narinas dos homens ao depredarem a casa. Aquilo não era jogo limpo nem correto. Montag sentiu uma enorme irritação. Além de tudo, ela não deveria estar ali!" (p.58)
Não podemos negar que a premissa em si de Farheint 451 é
muito instigante. A obra faz uma crÃtica direta a sociedade de massa e aos
meios de comunicação, que tendem a alienar a população, e criar indivÃduos sem
vÃnculos e extremamente solitários. Na história, o povo da cidade é
extremamente superficial, sem senso crÃtico e massa de manobra, visto que
acreditam que a TV carrega verdades absolutas e que pensar demais só traz
tristeza. Para piorar ainda mais a situação, se você pensa que Big Brother
Brasil é um programa terrÃvel, é porque você ainda não conhece a programação
que passava naquela época.
Todos esses conceitos juntos são baseados nos primeiros
estudos de comunicação que surgiram no inÃcio do século XX, para tentar
compreender a nova sociedade que estava sendo instaurada. Os pesquisadores da
época acreditavam que as grandes revoluções (Francesa, Industrial e Americana)
+ o enfraquecimento do poder religioso (na época, a religião era uma das
principais ferramentas que mantinha a população unida, fora criar regras de
conduta) + a rápida urbanização provocaram o surgimento de um novo tipo de
cidadão, intitulado como o “homem-massa”, um indivÃduo atomizado, sem valores,
facilmente manipulado, sem laços e extremamente solitário. No caso do livro, os
personagens que o compõe.
Posto isso, nada mais inteligente do que utilizar da
Comunicação (rádio, TV e jornais) para reinstaurar os vÃnculos daquele, e fazer
com que o mesmo se sinta novamente parte da sociedade, além de claro, encontrar
uma maneira para manipulá-los. E é aà que entra o brilhantismo de Fareihnt 451.
Os membros da sociedade da obra realmente estão sozinhos na malha social,
apesar de seus vários amigos. E a TV realmente é a responsável por trazer
felicidade e conforto, além de criar novos laços sociais para os
telespectadores. Tanto que na história, os membros da sociedade chamam os
eletrônicos de “parentes”, e realmente não conseguem viver sem eles.
Fahrenheit 451 foi um livro escrito por Ray Bradbury,
publicado mundialmente em 1953. E mesmo tendo sido escrito há tanto tempo a
trás, a obra continua recente. A cada página, vemos elementos de sua história
que são perceptÃveis na sociedade atual. Imaginem o impacto quando em plena
Guerra Fria, surge uma obra que critica fortemente os regimes polÃticos
opressores, e o papel da mÃdia para à manipulação.
Como já disse, a narrativa em si é muito interessante e
inteligente. A trama é atrativa e envolvente, e a escrita do autor flui de uma
maneira inesperada, parecendo que estamos debatendo sobre tudo aquilo, ao invés
de sermos participantes de uma relação unilateral (lemos, e não tem como mudar
e nem debater com o que já está escrito). Embora o livro seja narrado por um
narrador observador, em vários momentos me senti dentro da história, e senti
mais a presença do próprio escritor do que de seus personagens.
Acredito que o único ponto que Ray Bradbury pecou foi na
escolha de traços e atitudes de seus protagonistas. A construção destes é sim
muito interessante (perceber como o meio e a realidade influenciaram no que
eles são) e fidedigna ao que acontece em vários lares ao redor de todo o mundo.
Porém, na minha humilde opinião – você pode achar diferente, não sou dona da
verdade -, todos os protagonistas (exceto a Clarisse), são chatos,
desinteressantes e entediantes. Nenhum deles conquistou o meu afeto e simpatia,
e desejei por toda a obra que eles morressem logo. Provavelmente foi mais uma
estratégia do autor para fazer com que refletÃssemos sobre efeito daquela sociedade
nas pessoas, contudo, para o leitor, faz com que a leitura se torne cansativa
em alguns pontos.
Com relação ao final em si, ao mesmo tempo em que este foi
decepcionante para mim (eu esperava algo muito maior e com maiores proporções)
foi coerente com o que foi proposto ao longo da trama. Foi justo, por não ter
palavra melhor para expressar, e acho que outras conclusões poderiam ter tirado
o pesar das cenas que ocorrem nas últimas páginas.
Resenhar Fahrenheit está entre uma das coisas mais difÃceis
que já fiz sem contar com escrever este nome capirótico que eu sempre digito
errado. O livro é denso, complexo e cheio de camadas, sendo aquele clássico
caso de história que a cada leitura, é possÃvel abstrair novos conceitos e
reflexões. A trama é rica em referências e metáforas inteligentes que a tornam
ainda mais rica e exuberante. Realmente, é uma obra-prima.
Particularmente, não é a minha obra favorita do estilo –
prefiro A Revolução dos Bichos. Mas consigo ver o tamanho talento e audácia do
escritor de falar de um assunto tão importante, em um perÃodo em que as pessoas
não tinha consciência do grande problema em que estavam inseridos.
Ah, antes que eu me esqueça, a obra possui um Prefácio – uma
das partes mais adoráveis deste, uma vez que explicam o contexto em que o mesmo
foi escrito e o seu papel na sociedade da época -, três blocos narrativas, marcados
por três grandes momentos da trama, um Posfácio – que é como uma entrevista com
o Ray -, e uma Coda (sendo sincera, não li essa parte, fiquei com preguiça).
Para as pessoas que querem compreender um pouco mais sobre a história e a
crÃtica por trás da obra, recomendo muito a leitura desses elementos!
De uma maneira geral, Fahrenheit 451 foi um livro que me
impressionou, ao mesmo tempo em que me decepcionou. Fiquei encantada com a
audácia do escritor, com sua inteligência e ironia. Mas incomodada com seus
personagens completamente sem carisma, que me fizeram em alguns momentos ter
raiva da trama.
1 comentários
Eu amo esta obra de Ray Bradbury. Fahrenheit 451 é ainda um livro que nos faz refletir do mundo atual e do futuro distopico. Para mim é uma das melhores obras de ficção cientifica que foram escritas. A verdade é uma das minhas preferidas. Eu pouco vi que um filme desta história será lançado também. É bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filme de ficção baseados em livros clássicos. Vi que HBO foi o responsável e acho que o seu trabalho é bom, além de que o elenco é de primeira com Michael Shannon e Michael B Jordan. Estou ansiosa para vê-lo! Se vocês são amantes do livro este é um filme que não devem deixar de ver.
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