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Resenha | FAHRENHEIT 451 - Ray Bradbury

16:33Ayllana Ferreira


FICHA TÉCNICA

Nome: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Páginas: 215
Gênero: Ficção científica
Editora: Biblioteca Azul
Sinopse: A obra de Bradbury descreve um governo totalitário, num futuro incerto mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instaladas em suas casas ou em praças ao ar livre. O livro conta a história de Guy Montag, que no início tem prazer com sua profissão de bombeiro, cuja função nessa sociedade imune a incêndios é queimar livros e tudo que diga respeito à leitura. Quando Montag conhece Clarisse McClellan, uma menina de dezesseis anos que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo, ele percebe o quanto tem sido infeliz no seu relacionamento com a esposa, Mildred. Ele passa a se sentir incomodado com sua profissão e descontente com a autoridade e com os cidadãos. A partir daí, o protagonista tenta mudar a sociedade e encontrar sua felicidade.


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"Que progresso estamos fazendo. Na Idade Média, teriam queimado a mim; hoje em dia, eles se contentam em queimar meus livros" (p.11)


Existem alguns livros que são surpreendentes. Por mais que se enquadrem como narrativas ficcionais, as várias metáforas e ironias inseridas em suas composições fazem críticas inteligentíssimas sobre a realidade em que vivemos, e nos fazem refletir sobre vários aspectos que as vezes, consideramos como comuns, mas que na verdade não são. E nesses casos em específico, a ficção pode ensinar muito mais que um livro didático ou histórico.

A proposta de Fahreint é bem interessante: uma sociedade futurística no qual ler livros se tornou um hábito proibido. Os bombeiros, que antes apagavam o fogo, agora tem como missão ascendê-lo, e queimar qualquer passado que mostre uma sociedade diferente daquela. A TV dominou o dia-a-dia das pessoas, se tornando parte da família. Os laços estão fragilizados, e as pílulas são os melhores amigos do povo. No meio disso tudo, a trama é narrada a partir da visão de Guy Montang, um bombeiro que presencia uma situação extrema em que uma senhorinha prefere se matar do que viver sem suas obras (o Estado descobriu que ela possuía uma biblioteca ilegal, e a pena para casos assim é a queima dos exemplares). Junto a isso, o protagonista conhece também a instigante Clarissa, uma menina de 17 anos repleta de vida que o faz questionar sobre a sua felicidade, e até mesmo sobre a função do ato em si de pensar (não é algo muito comum na sociedade que abriga a história).

"Nessa noite, porém, alguém cometera um deslize. Essa mulher estava estragando o ritual. Os homens estavam fazendo muito barulho, rindo, fazendo piadas para encobrir o terrível silêncio acusador da mulher lá embaixo. Ela fazia os cômodos vazios rugirem acusações e desprenderem uma fina camada de pó de culpa que era aspirada pelas narinas dos homens ao depredarem a casa. Aquilo não era jogo limpo nem correto. Montag sentiu uma enorme irritação. Além de tudo, ela não deveria estar ali!" (p.58)

Não podemos negar que a premissa em si de Farheint 451 é muito instigante. A obra faz uma crítica direta a sociedade de massa e aos meios de comunicação, que tendem a alienar a população, e criar indivíduos sem vínculos e extremamente solitários. Na história, o povo da cidade é extremamente superficial, sem senso crítico e massa de manobra, visto que acreditam que a TV carrega verdades absolutas e que pensar demais só traz tristeza. Para piorar ainda mais a situação, se você pensa que Big Brother Brasil é um programa terrível, é porque você ainda não conhece a programação que passava naquela época.

Todos esses conceitos juntos são baseados nos primeiros estudos de comunicação que surgiram no início do século XX, para tentar compreender a nova sociedade que estava sendo instaurada. Os pesquisadores da época acreditavam que as grandes revoluções (Francesa, Industrial e Americana) + o enfraquecimento do poder religioso (na época, a religião era uma das principais ferramentas que mantinha a população unida, fora criar regras de conduta) + a rápida urbanização provocaram o surgimento de um novo tipo de cidadão, intitulado como o “homem-massa”, um indivíduo atomizado, sem valores, facilmente manipulado, sem laços e extremamente solitário. No caso do livro, os personagens que o compõe.

Posto isso, nada mais inteligente do que utilizar da Comunicação (rádio, TV e jornais) para reinstaurar os vínculos daquele, e fazer com que o mesmo se sinta novamente parte da sociedade, além de claro, encontrar uma maneira para manipulá-los. E é aí que entra o brilhantismo de Fareihnt 451. Os membros da sociedade da obra realmente estão sozinhos na malha social, apesar de seus vários amigos. E a TV realmente é a responsável por trazer felicidade e conforto, além de criar novos laços sociais para os telespectadores. Tanto que na história, os membros da sociedade chamam os eletrônicos de “parentes”, e realmente não conseguem viver sem eles.

Fahrenheit 451 foi um livro escrito por Ray Bradbury, publicado mundialmente em 1953. E mesmo tendo sido escrito há tanto tempo a trás, a obra continua recente. A cada página, vemos elementos de sua história que são perceptíveis na sociedade atual. Imaginem o impacto quando em plena Guerra Fria, surge uma obra que critica fortemente os regimes políticos opressores, e o papel da mídia para à manipulação.

Como já disse, a narrativa em si é muito interessante e inteligente. A trama é atrativa e envolvente, e a escrita do autor flui de uma maneira inesperada, parecendo que estamos debatendo sobre tudo aquilo, ao invés de sermos participantes de uma relação unilateral (lemos, e não tem como mudar e nem debater com o que já está escrito). Embora o livro seja narrado por um narrador observador, em vários momentos me senti dentro da história, e senti mais a presença do próprio escritor do que de seus personagens.

Acredito que o único ponto que Ray Bradbury pecou foi na escolha de traços e atitudes de seus protagonistas. A construção destes é sim muito interessante (perceber como o meio e a realidade influenciaram no que eles são) e fidedigna ao que acontece em vários lares ao redor de todo o mundo. Porém, na minha humilde opinião – você pode achar diferente, não sou dona da verdade -, todos os protagonistas (exceto a Clarisse), são chatos, desinteressantes e entediantes. Nenhum deles conquistou o meu afeto e simpatia, e desejei por toda a obra que eles morressem logo. Provavelmente foi mais uma estratégia do autor para fazer com que refletíssemos sobre efeito daquela sociedade nas pessoas, contudo, para o leitor, faz com que a leitura se torne cansativa em alguns pontos.

Com relação ao final em si, ao mesmo tempo em que este foi decepcionante para mim (eu esperava algo muito maior e com maiores proporções) foi coerente com o que foi proposto ao longo da trama. Foi justo, por não ter palavra melhor para expressar, e acho que outras conclusões poderiam ter tirado o pesar das cenas que ocorrem nas últimas páginas.

Resenhar Fahrenheit está entre uma das coisas mais difíceis que já fiz sem contar com escrever este nome capirótico que eu sempre digito errado. O livro é denso, complexo e cheio de camadas, sendo aquele clássico caso de história que a cada leitura, é possível abstrair novos conceitos e reflexões. A trama é rica em referências e metáforas inteligentes que a tornam ainda mais rica e exuberante. Realmente, é uma obra-prima.

Particularmente, não é a minha obra favorita do estilo – prefiro A Revolução dos Bichos. Mas consigo ver o tamanho talento e audácia do escritor de falar de um assunto tão importante, em um período em que as pessoas não tinha consciência do grande problema em que estavam inseridos.
Ah, antes que eu me esqueça, a obra possui um Prefácio – uma das partes mais adoráveis deste, uma vez que explicam o contexto em que o mesmo foi escrito e o seu papel na sociedade da época -, três blocos narrativas, marcados por três grandes momentos da trama, um Posfácio – que é como uma entrevista com o Ray -, e uma Coda (sendo sincera, não li essa parte, fiquei com preguiça). Para as pessoas que querem compreender um pouco mais sobre a história e a crítica por trás da obra, recomendo muito a leitura desses elementos!

De uma maneira geral, Fahrenheit 451 foi um livro que me impressionou, ao mesmo tempo em que me decepcionou. Fiquei encantada com a audácia do escritor, com sua inteligência e ironia. Mas incomodada com seus personagens completamente sem carisma, que me fizeram em alguns momentos ter raiva da trama.


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1 comentários

  1. Eu amo esta obra de Ray Bradbury. Fahrenheit 451 é ainda um livro que nos faz refletir do mundo atual e do futuro distopico. Para mim é uma das melhores obras de ficção cientifica que foram escritas. A verdade é uma das minhas preferidas. Eu pouco vi que um filme desta história será lançado também. É bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filme de ficção baseados em livros clássicos. Vi que HBO foi o responsável e acho que o seu trabalho é bom, além de que o elenco é de primeira com Michael Shannon e Michael B Jordan. Estou ansiosa para vê-lo! Se vocês são amantes do livro este é um filme que não devem deixar de ver.

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