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No fundo todas queremos a mesma coisa...RESPEITO!

12:32Cecília Rodrigues


Ontem, 8/3, como todos os leitores aqui presentes devem já saber, foi comemorado o Dia Internacional da Mulher.

Mas hoje, pelo menos não por enquanto, não vim aqui falar sobre a história desse dia e sua importância. Mas sim da minha experiência com esse dia.

Todo ano minha escola comemora o Dia Internacional da Mulher de forma diferente. Lembro que no sexto ano, tivemos um desfile onde uma menina de cada sala se vestia de flor ao som de suas músicas favoritas e leitura de poemas enquanto as espectadoras recebiam rosas de chocolate. No meu sétimo ano, tivemos durante o horário de português a história do dia da mulher e a progressão dos direitos femininos contada, com direito de eu e mais várias meninas quase chorando. Ano passado, nossa professora de história nos deu uma aula sobre machismo e feminismo e ainda passou músicas antigas consideradas "machistas", e no horário de português tivemos uma discussão sobre respeito e tocaram "Trem-Bala" na sala, seguidos da secretaria nos entregando sementes de girassol. Mas esse ano, com certeza vai ficar no meu coração.

Eu primeiramente tenho que dizer que esse dia costuma me deixar bem emocional e sensível, o que não melhora muito se considerarmos o fato que eu já sou emocional e sensível.

Passei a semana inteira falando desse dia, contando horas pra ele chegar. Pode não ser a data mais importante do ano, mas pra mim era só uma oportunidade de me sentir especial e discutir os meus direitos, já que eu tinha poucas dessas chances. De qualquer forma, acordei de manhã e nem lembrei que dia era aquele, só me arrumei e meu pai me deixou na esquina da escola, então tive que andar o resto do trajeto a pé.

Chegando mais perto do portão da escola, mesmo que ainda com sono, consegui perceber que existiam muitas pessoas esperando na frente do portão. Chegando um pouco mais perto, percebi que só haviam meninos esperando na frente do portão.

Achando estranho, eu já ia perguntar se a escola havia alagado de novo por causa da chuva do dia passado, mas então eu vi um papel pendurado na porta da escola:

"Hoje nenhum homem vai entrar antes das mulheres"


Fiquei ainda mais confusa, e só quando meus colegas e o porteiro me avisaram que eu podia passar que caiu a ficha: Era Dia da Mulher.

Eu fui toda feliz, é claro, entrando na escola, eu podia ouvir vários dos meus colegas me pedindo pra eu levar as mochilas. E é claro, eu neguei. Eles tinham capacidade total de carregar as mochilas deles, né?

Chegando na sala, abracei todas as meninas e as desejei um feliz Dia da Mulher. Mas o que era bom durou pouco, e quando o sinal das 7h bateu todos puderam entrar.

Meu professor de espanhol então passou entregando folhinhas coloridas em branco para eu e minhas colegas, dizendo que mais tarde ia passar explicando o que era pra fazer.

Nós, obviamente, ficamos nos mordendo de curiosidade. Principalmente eu, já que aquilo me cheirava a boas coisas. E logo depois veio o horário de física, onde meu professor desejou parabéns a todas nós e logo disse:

"Que vocês saibam que não tem que receber flores ou chocolates hoje, mas sim receber respeito todos os dias.Mas como esse respeito por minha parte não vai faltar nunca, eu trouxe uma lembrancinha"
E então ele nos entregou bombons Ouro Branco. Eu e minhas amigas comemos na hora, sob reclamações dos meninos sobre "não ter Dia do Homem"(dos mesmos criadores do Orgulho Hétero) e eles não terem ganhado nenhum bombom. Enfim, passaram-se pelo menos meia hora de cálculos até eu pedir pra ir no banheiro. O professor não questionou, só me deixou ir.

Chegando lá, a primeira coisa que olhei foi um cartaz pendurado no espelho: "Atenção! Imagens nesse espelho podem estar distorcidas por excesso de beleza. Você é linda!"

Eu, da forma mais  normal possível, me derreti toda pela fofura da mensagem. Só não tirei foto de tudo que aconteceu nesse dia porque na hora eu não estava com meu celular em mãos. Pelo menos uma colega minha tirou e me mandou.

Assim que cheguei, o professor de espanhol tinha chegado e eu me sentei rápido pra ouvir a explicação do que faríamos: Nos cartões, íamos todas escrever como gostaríamos de ser tratadas.

Primeiro pensamento: Wow.
Segundo pensamento: Minha hora de brilhar!
Terceiro pensamento: Espera, por onde eu começo?


Obviamente, eu fui uma das primeiras a terminar. Meu cartão continha a seguinte frase "+ Respeito, - Babaquice, +Valor, - Machismo. #RespeitaAsMina". Eu vi alguns meninos olhando pros cartões meu e das minhas amigas e rindo, como se aquilo fosse brincadeira. No fundo, no fundo, nem liguei. Eles nunca passaram pelo que nós mulheres passamos, então fica fácil achar que é palhaçada (Sem generalizar, por favor)

Quando o sinal do intervalo bateu... Ou melhor, não bateu. As meninas foram permitidas de sair cinco minutos antes dos garotos, já que íamos colar os cartõezinhos no mural.

Colei o meu o mais alto que eu pude, e logo depois desci com minhas amigas pra lanchar. Não tive tempo de ler o que as outras meninas haviam colocado, por isso só li depois.

Assim que subi, li alguns cartões. E todos eles me encheram de orgulho, pois tinham de meninas mais novas que eu dizendo coisas sobre mulheres saindo na rua sem serem julgadas pela roupa, falando que Não é Não, entre muitas outras observações.

E novamente, eu quase chorei. Metade de mim estava triste, pois meninas novas já sabiam pelo que as pessoas do mesmo gênero que elas passavam. Mas a outra metade estava feliz, pois elas sabiam pelo que as pessoas do mesmo gênero que elas passavam. E elas sabiam que aquilo era errado.
Tive um pouco de raiva, já que não vi quase nenhum homem lendo aquele mural e sim fazendo comentários babacas. Mas eu só respirei fundo, hoje é dia pra amar e apoiar suas coleguinhas na escola, deixa pra militar mais nas suas redes sociais.

Depois que o dia acabou, eu fui pra casa e dei um Feliz Dia da Mulher pra minha mãe e a abracei cheia de carinho. Logo depois. mandei mensagem desejando parabéns pra todos meus contatos femininos, e cada resposta era tão maravilhosa que meu coração ficava quentinho.

Depois passei o dia inteiro filosofando sobre meu papel na sociedade, como eu sou tratada e como eu trato as outras mulheres ao meu redor.
Respeito é um direito do ser humano de natureza, e eu quero que outras pessoas me dêem o respeito que eu mereço independente da roupa que eu visto, da cor do meu batom, de quantos caras eu pego numa noite ou sobre o que eu falo. Mas como eu estou tratando as pessoas, em especial as mulheres, ao meu redor?
Será que eu não chamo uma menina de "vadia" só porque ela ficou com mais de três pessoas na balada? Não julgo quando a garota usa uma roupa justa/curta/decotada? Não desmereço o trabalho de uma mulher ou não acredito quando ela me conta sobre violências físicas/verbais/psicólogicas/sexuais que ela sofreu?

E essa questão do respeito é a coisa que mais me deixou chocada. Nos cartões, existiam no máximo dois que não continham a palavra "Respeito" escrita nela. Isso não é uma loucura minha, um mimimi das minhas amigas ou uma vontade de ser melhor das minhas colegas. É uma coisa que falta muito em relação á nós e isso é um consenso entre todas as mulheres: Respeito.

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